quinta-feira, 26 de novembro de 2020

EU NÃO SOU A VÍTIMA

 

Não sou seu objeto de estudo

Não serei analisado pelas lentes de sua ambição.

Gritos semelhantes já foram dados e nunca respeitados.

Gritos que pedem nada mais que um alívio, entre bipes, toques e venenos visuais que afetam diretamente a alma.

As necessidades que você criou me fez criar nova necessidade.

Justificado meu ato de permanecer em silêncio, pois já cansado não quero saber dessas suas balelas.

Faz das pessoas instrumentos para uma distração autodestrutiva para a alma de todos.

Faz do sonho de cada um desvanecer nos assuntos mais supérfluos possíveis.

Quer me levar rumo o paredão, mas sorrindo, pois assim a carne é mais gostosa.

Não sou vítima, pois caso fosse, seria mais um número na sua calculadora.

Não quero ser contabilizado, quero apenas ser, por isso não sou vítima.

Enquanto houver oportunidade, aos que têm ouvidos para ouvir: o mundo jaz no maligno.

 

PAULO PASSOS

 24/11/2020

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

SOBRE SER RESISTÊNCIA

 

Sabe que se trata de uma escolha para a vida toda.

Encarar o peso do dia-a-dia.

Acordar todos os dias, depois de uns anos já não é mais a mesma coisa.

Encarar o mundo sem qualquer distração, mastigar as pedras sem chorar, olhando nos olhos de todos vocês que assistem ao grande espetáculo e que desviam as pupilas para as luzes.

Falar sozinho é prazeroso ao que não quer ser julgado; ser julgado por quem não tem juízo não faz nenhum sentido.

Falar aos quatro ventos cujas direções não passam de um retorno a si mesmo; irei me lançar aos quatro mares buscando imersão, mas sou levado sempre à terra firme!

As buscas, os meios que tomei não foram por conforto!

Resistência.

 

PAULO PASSOS

 04/10/2020

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

ESCOLHAS

 

E mais uma vez preciso do dicionário

Para me expressar.

As combinações das letras formam um belo quadro.

Gostaria de ali estar e ver mais de perto

Qual peso das escolhas...

O que se chama liberdade é uma dádiva?

O tempo pinta o quadro de nossas decisões.

Não são dados numéricos.

Talvez esteja aí a beleza da vida.

Este quadro é tudo o que poderia ser feito, o quadro da vida:

Uns acinzentados, outros coloridos.

Hiper-realistas desconfigurados pelas circunstancias,

Surrealistas angelicais em pleno sono,

Os detalhes pontilhados pelos mais sistemáticos,

Aos narcisistas um grotesco autorretrato.

No final é uma combinação de cores e formas, em choque com as rochas em queda livre.

O rastro do que sobrou somado às velhas cicatrizes geram cores vivas.

O suspiro é este. a essência da obra...

Ocultos aos apreciadores, em segredo às sete chaves, estão o belo e o sublime.

Belo resultado.

Sublime vir-a-ser, lançar-se de ponta cabeça ao desconhecido...

Óleo sobre tela.

 

PAULO PASSOS

13/08/2020

sábado, 15 de agosto de 2020

DISTANTE

 

Desse tanto, tonto.

Destoante eu tento

Nova tinta em traços tortos.

Esse tom trítono,

Tenta triturar a harmonia,

Mas anuncia novos campos.

Tritura o passado, de seus frangalhos, novos castelos.

Mesmos erros sempre, em torno dos mesmos vícios.

Civilização e barbaridade  são facetas de um mesmo corpo.

Esse ciclo de dor e prazer...

Ardor da crise constante do ser,

Chama que garante o devir,

Chama-me pelo nome a refletir,

O espetáculo que de longe vislumbrei.

 

 

PAULO PASSOS

01/08/2020

quarta-feira, 3 de junho de 2020

obriGADO (boi de ferro)

Por que cada vez mais a palavra gado vem a tona?

Tem algo de grotesco e desesperado nessa vontade de ser assistido.

Este sítio de prateleiras infinitas.

Essas cores em fotos tão vazias.

Esse amor ao mar ejaculado em prazer precoce.

Distanciar para ver melhor, de longe.

O coração não é míope e dele nada se esconde.

Mas, se ofuscado pelo tato ou pelos olhos da carne,

Na escuridão da imediatez sofre a alma.

De tanto desgosto eis que vem,

Em casca grossa, novo homem.

Sem sentimento, mecânico, pesado homem de ferro.

Não flutua, mas se levanta, vai incerto, aos tatos, ao canto da sereia.

Satisfeito apesar da sede.

Entregue às engrenagens que o consome.

 

PAULO PASSOS

03/06/2020


quinta-feira, 16 de abril de 2020

OFFLINE


Ficar um tempo com os dispositivos desligados tem sido dos mais produtivos desafios.
Ficar um tempo em silêncio, isolado, tem sido se libertar do sacrifício.
Quem dirá o contrário? Essa brincadeira de séries mal feitas longe foi.
Esse canto desafinado e sem letra é mascarado pelo ritmo das máquinas.
Atrai a todos pelo estômago.
“Pela boca morre o homem.”
Eles de fato descobriram isto.
Pensar sobre isso é tão óbvio e tão claro que nos cega.
De volta à escuridão, nas mídias a navegar, em busca de não sei o que.
No labirinto de espelhos infinitos, o discurso vem de todos os lados.
Cai rendido, desarmado o desalmado e vendido cidadão.
Embriagado de informações caluniosas guarda o argumento X e Y.
Dá-lhe contradição, iguaria social, presente sempre à mesa a temperar a refeição.



PAULO PASSOS 12/04/2020

sábado, 21 de março de 2020

HARMONIA, BELEZA E BONDADE


É tão fácil falar das coisas boas...
De fato, parece ser esta a essência da poesia.
Feito luva, perfeito encaixe, logo incita
Fortes emoções, inclusive, previsível rima.
Em tão profundo deleite o poeta se esquece, se perde na vertigem, vagueia em círculos, sem norte.
Enquanto o encanto entorpece, em doce cântico se perde o poeta nos cabelos da donzela.
Esse cheiro gostoso, esse olhar e o toque que extasia a alma...
Enfim, tudo isso é produto.

PAULO PASSOS - -/02/2020



sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

CULTO DA IRRESPONSABILIDADE


Essa guerra sem sangue
Labor sem suor
Tragédia sem herói.
Silenciosa orquestra é sua vida.
Beleza meramente visual.
Aparências e devaneios em culto a si mesmo por luta nenhuma.
Deitado no sofá aparenta cansado, cansado de quê?
O Nada, seu deus que tudo permite te faz se afogar em sua própria saliva.
O Nada, você, que adora sofrer com o amor próprio, não correspondido por não se suportar.
Imerso em si, você sente o odor putrefato de seu próprio perfume.
Imerso em inveja e ciúmes, mal sabe justificar sentimentos, a isso é imune.
Sentir? Para quê?
Deixa de lado o que realmente importa.
Já que a gula engole seco o doentio amor próprio...
O self já morto na selfie:
Sorriso vazio do vencedor que nunca lutou.

PAULO PASSOS - 07/02/2020

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

CELEBRIDADE MÓRBIDA


Tão bela, tão expressiva, singelas palavras entoadas ao léu.
Profundo vazio você vive. Grita como se estivesse sentindo.
Entre caras e bocas, logo mostra os traços da morte.
Entre azar e sorte, já sabe que se joga por esporte.
Sabe chorar e sabe sorrir, mas não sente nada.
Se sonha...  pesadelo.
Em público é teatro.
No discurso há um fato: o olhar sempre desvia.
Aqui percebo que não há nenhuma magia.
Morre a mágica em frajuta pirotecnia.

PAULO PASSOS - 02/02/2020

domingo, 2 de fevereiro de 2020

A MARCHA


Foi quando me senti mais seguro, caí...
Sabia que para todos eu estava mal.
Por outro lado eu estava me libertando.
De onde estou eu vejo coisas que você não vê.
Com poucas observações seus argumentos vão ao chão.
Quando me ocultaram todas as possibilidades de uma vida saudável, pude ver as engrenagens desse grande relógio.
Aquela dorzinha sua, aparentemente superficial é muito mais profunda.
A ciranda deste mecânico espetáculo aumenta e diminui a velocidade.
O giro desenfreado, a seresta, mórbido cântico, ode ao fim.
Sexo como regra, a besta, grande estrela...
Sem pais, país, paz...
“Ser você mesmo”: afastar-se de si.
“Viver a vida”: encher o cú de droga.
“Ser democrático”: amar a situação do engraxate.
E você late quando a verdade é dita!
Feito cachorro mastiga seu papel.
Frente aos olhos, grosso véu.
Sem luz diz enxergar.


PAULO PASSOS - 09/12/2019



quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

VIDA SINTÉTICA


Doce vida, doce.
Tão doce que as pupilas dilatam.
Dilatam paixões, prazeres e a impressão que tenho é a de que todos estão errados.
As coisas mudam apenas de cor, e aqui já percebo maior liberdade.
A metamorfose é um orgulho,
E tudo o que ficou para trás vai se tornando vergonha.
Certas coisas, antes claras e distintas são hoje dubitáveis... meu sorriso é dubitável.
Assumir os motivos de meu sorriso é retrocesso num mundo sem motivos.
A metamorfose não admite retrocessos;
A auto aceitação é impossível.
Arquétipos assumem meu corpo.
Categorias formalizam meus movimentos.
Os movimentos formalizam meus pensamentos.
Levanto-me contra mim.
Circuito em curto; curto absurdo em nome desse vazio.
Tudo o que é estático, qualquer padrão se quebra.
Tudo o que é estético, que seja doce como meu doce mundo.



PAULO PASSOS - 05/07/2019



quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

O FADO E O COTIDIANO

Sofre o escravo da rotina; pois deixa tudo em seu nome.
Entrega inclusive a sua alma e sabe que seu destino é a sepultura.
Em bela canção a cantar e dançar aos finais de semana, pressente presente logo a dor da partida.
Lágrimas junto ao sorriso, e que essa incerteza se acabe. Junto a ela tudo o que um dia lhes fez mal.
Que neste pacote também vá todo o sentimentalismo que enfraquece a alma.
Que a flor, bela flor do jardim vizinho, lá fique. Que nao haja encanto.
Não tirar-te-ei de tua sagrada terra por mera posse. 
Seguirei a cantar e dançar, que seja só...
Tudo isso é fado.

PAULO PASSOS - 22/01/2020

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

VIRA-LATA



Sou eu mesmo,
Sem laços sanguíneos,
Nós atados pelo espírito,
Resistência em qualquer condição.
A liberdade é frígida,
Porém nos aquece;
O sangue faz o motor funcionar,
Meu suor, minha moeda,
A minha regra, nada que valha no seu mercado.
Não estou armado mas aguardo seus ataques.
Não perco tempo, o caminho é um só.
Na fé tudo acontece.
Transito nos ambientes adversos.
Em silêncio faço o estrago e não quero troféu.
O som toca baixo aos que têm ouvidos.
Em sua pequenez se fez grande aquele que soube fazer.
As proporções são outras, transformações incalculáveis.
Nada apaga esse Sol...
Nada paga minha condição.
Sou vira-lata...
O meu silencio é para você que não sabe ouvir.
Sou vira-lata e você não me vê porque não sou pedigree.

PAULO PASSOS
10/07/2019